Desenhos matéricos
“Um fotógrafo-artista me disse uma vez: veja que o pingo de sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar. Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balança nem com barômetro etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produz em nós.”
Manoel de Barros
“Sempre fui encantado por pequenos-grandes achados, numa rua, numa oficina, ou sobras do fazer no ateliê, que ganham nesse olhar uma nova realidade.
“É um jeito que o devir criança achou para organizar esse encantamento.”
Leo Ceolin
Os pequenos objetos que compõem a série Desenhos matéricos encantam por sua simplicidade. Com gestos despretensiosos, o artista busca apresentar uma linguagem capaz de revelar a beleza de materiais e resíduos industriais, nos convidando a perceber a poética dessa materialidade em suas formas ‘quase’ brutas.
O gesto escolhido, flertando com a escultura e o design, acaba por configurar uma espécie de linguagem material que vai sendo composta por meio de técnicas de desenho e ensamblagem que surgem no interior de uma oficina de serralheria e marcenaria. Uma descoberta que só pode surgir a partir do cotidiano do próprio artista, na relação produzida entre seu corpo manufatureiro e os materiais, ferramentas e vestígios existentes em seu ateliê.
A série de desenhos é resultado de uma investigação em que o gesto desenhado, produtor de texturas e relações cromáticas, é produzido muito mais pela aproximação entre os fragmentos materiais e seus suportes do que pela busca concreta de uma imagem definitiva, como aconteceria em uma pintura realista ou em um registro fotográfico.
Flavio Tonnetti
Ficha técnica
Materialidade: Restos de madeiras, metais, plásticos, minerais, papeis e outos.
Técnica: ensamblagem, solda, colagem, fixações e desenho com materiais diversos.
Dimensões: Variáveis
Ano: 2019/23
Interlocução: Flavio Tonnetti